VERVE.TENTE
Estudos e Reflexões FLÁVIO MELLO

FIANDO LINHAS AS ESCURAS

Category: By Flávio Mello

Bom, estou ouvindo um CD chamado Fiandeiras do Pantanal - Tetê Espíndola de 2002, na verdade ouço um CD com poemas musicados e cantados por Tête e recitados por Raquel Naveira, e é sobre ela de quem vou falar hoje.

Estou fazendo um curso de pós-graduação e fui honrado com algumas aulas dessa poetiza ímpar que fez questão de nos anestesiar com suas poesias ao longo do curso ministrado por ela, curso no qual nos fez produzir interminavelmente, que gerou certo desconforto por parte de alguns improdutivos..., o que não vem ao caso, na aula que tivemos hoje (04/10/2008) Naveira nos deliciou com suas leituras e com um dos poemas cantados por Tête do disco que já citei, ficamos com aquela sensação de... num sei de que... mas ficamos, bom pelo menos eu fiquei, ao chegar em casa corri ao computador e fiz como de costume minhas buscas, queria encontrar o CD de Naverira e Tête, e assim... depois de pouco trabalho achei-o.

E é ele que agora faz fundo para essa pequena e despretensiosa crônica.

Todos já sabem o meu apreço por música, já falei nesse espaço em outra ocasião, claro que falei do gênero que muito aprecio, mas não deixo de ter os ouvidos abertos, o coração em chama e a mente ligada.

Após conseguir o tal almejado CD dei busca em outros arquivos sobre minha tão poética professora, para minha surpresa achei o seguinte comentário feito por um monstro, e infelizmente falecido, Deus sabe escolher os seus, Artur da Távola, que diz: Como é possível produzir tanto e tão bem... Ensine-me o segredo. O Arado e a Estrela é um livro de ensaios ou crônicas...Importa que ótimas. Prefiro lê-lo como crônica. Assim o gênero ganha mais uma cultora. Parabéns.

Não vou continuar expondo aqui, outros comentários, creio que o de Távola sintetize o meu desejo frustrado de, tentar, dizer algo sobre essa incrível mulher, não vou expor o comentário de Affonso Romano de Sant’anna, como também não vou expor o de Antonio Houaiss, os nomes já bastam.

A vida nos revela em seu tecer, em sua linha da vida, assim como a fiandeira, como a aranha ou os fios de cabelos, posso até mesmo citar de forma orgânica os tentáculos ígneos das águas-vivas, que a poesia é o alimento da alma, a poesia nos faz sorver instantes de ternura oferecidos por colibris feitos de luz, é a poesia o estar e o ser das coisas, e os poetas, ah... os doudos poetas, colibris feito de luz, são as portas escancaradas para o coração do lirismo e da verdadeira alma humana.

Deixo um poema dessa incrível mulher e poetiza, espero que o coração de vocês berre como berrou o meu nesse ano,


CABELO


Estou triste,
Cortei o cabelo.
Não sou mais adolescente
De tranças
E olhos lânguidos.
Não sou mais moça,
Balançando a crina,
Como égua musculosa
Na colina.
Não sou mais princesa,
Usando tiaras,
Arrastando a coma
Como se tivesse na cabeça
A cauda de um cometa.
Adeus, cabelame!
Derrame de seiva sobre meus ombros,
Véu natural
Com que penetrava câmaras ardentes.
Por que cortei o cabelo?
Por que não o mantive longo,
Mesmo branco e seco,
Preso na nuca
Por marfim e pentes?


RAQUEL NAVEIRA


SOBRE A AUTORA


Nasceu em Campo Grande, em 23 de setembro de 1957.
Profissão: Professora universitária.Atividades culturais:Produtora e apresentadora de programa literário semanal na TV UCDB.Membro titular do PEN Clube do Brasil (RJ), eleita no dia 14 de janeiro de 2000.


Obras publicadas:


Via Sacra – 1989
Fonte Luminosa – 1990
Nunca-Te-Vi – 1991
Fiandeira – 1992
Guerra Entre Irmãos – 1993
Sob os Cedros do Senhor – 1994
Canção dos Mistérios – 1994
Abadia – 1995
Mulher Samaritana – 1996
Maria Madalena – 1996
Caraguatá – 1996
Pele de Jambo – 1996
O Arado e a Estrela – 1997
Rute e a Sogra Noemi – 1997
Intimidades Transvistas – 1997
Casa de Tecla – 1998
Senhora – 1999
Stella Maia e Outros Poemas – 2001
Xilogravuras – 2001
Maria Egipcíaca – 2002
Casa e Castelo – 2002
Tecelã de tramas - ensaios sobre interdisciplinaridade - 2005


Outras informações:


O livro Senhora recebeu o prêmio Jorge de Lima-Brasil 500 anos, concedido pela Academia Carioca de Letras e pela UBE/RJ - novembro de 2000;
2º lugar no prêmio Oscar Mendes, categoria ensaio, com o livro Maria Egipicíaca;
Apresentação do livro de fotos, do fotógrafo Fábio Colombine, intitulado “Pantanal – cores e sentimentos”;
Os livros “Abadia” (1996) e “Casa de Tecla” (1998) foram indicados ao Prêmio Jabuti de Poesia da CBL.
Sócia-correspondente da Academia Mineira de Letras.


SITES (visitados e visite):


 

1 comment so far.

  1. Anônimo 5 de outubro de 2008 às 15:51
    É memo incrível como a vida nos revela surpresas maravilhosas! Deus está me dando, este ano, a honra de poder conviver (e aprender) com pessoas maravilhosas, inteligentes, sensíveis e surpreendentes... Lino, Vivi, Fernanda, Karoll, Silvania, Geni... Claro que o "surpreendente" é principalmente para você: no início você me pareceu um menino malcriado, fiquei brava com você, é verdade, por causa da nossa mestra Raquel. De repente, entro aqui e leio a coisa mais linda que já ví. Parabéns, você é lindo, muito obrigada, Deus te abençoe.

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