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Estudos e Reflexões FLÁVIO MELLO

EDUCAÇÃO = EDUCAR SONHANDO

Category: By Flávio Mello

Há tantos motivos nos (e para os) sonhos, ou para (se) sonhar, ou para se dedicar a sonhar, acreditamos que a palavra sonhar, uma linda palavra por sinal, mereça um balizamento sobre seu aspecto metafórico, onírico e surreal, de modo que, antes de falarmos em educação e a importância da educação e de se educar, precisamos fazer uma pequena introdução onde a palavra sonhar será a raiz, o pino, o piso, o suporte para esse artigo.

Segundo o dicionário Houaiss:

SONHAR v. 1. ver a imagem de (algo ou alguém) enquanto dorme, em sonho(s) 2. ter fantasias, devaneios com (o que é inacessível) 3. Desejar muito, com insistência; almejar.

Quando pequenos sonhamos com diferentes futuros à medida que aumentamos nosso conhecimento de mundo, esse mesmo menino que sonhou ser astronauta, desejou ser bombeiro, soldado, presidente, rei, ou mesmo professor.

E o que essa pequena introdução tem a ver como nosso trabalho sobre Educação, a nosso ver tudo, uma vez que o sonho faz e transforma a vida de um individuo, e não é o sonho, o sonhar acordado, como disse Poe, que nos impulsiona para o existir, não é o sonho que é o vento para a vela de nossa alma..., acreditamos que a educação está enraizada na antes do ato de aprender ler, escrever etc, no sonho, pois é ele que se aninha em nosso subconsciente e que nos guia no decorrer da vida, havendo, sim ou não, modificações no decorrer do existir.

O fato é que, ao ver o filme Escritores da liberdade, um belíssimo filme baseado em fatos reais, onde um professora se vê diante de uma sala desmotivada, “fraca” e de uma escola omissa e que os ignora filme esse dirigido pelo diretor Richard LaGravenese, e brilhantemente atuação de, duas vezes agraciada pelo Oscar, Hilary Swank (Menina de ouro), no papel da dinâmica e apaixonante professora de gramática Erin Gruwell, quye faz de sua vida extensão da de seus alunos, marcando profundamente a vida de cada um deles com gestos significativamente relacionados ao ato do sonhar, retirando do seio infeccionado das ruas jovens que foram marcados pelas drogas, perdas de entes queridos e violentados pelo sistema, uma belíssima lição de vida.

“As escolas se preocupam principalmente com o conhecimento intelectual e hoje constatamos que tão importante como as idéias é o equilíbrio emocional, o desenvolvimento de atitudes positivas diante de si mesmo e dos outros, aprender a colaborar, a viver em sociedade, em grupo, a gostar de si e dos demais.” José Manuel Moran[1]

Um dos momentos chave do filme é o momento da entrega dos diários aos alunos, cadernos onde esses alunos descreveriam suas frustrações e emoções ao longo dos dias, fazendo realmente parte de seus cotidianos, esse ato “Meu querido diário” impulsiona os alunos a produzirem pequenas crônicas da vida real, onde a professora se depara com questões muito maiores dos que esperava, vale ressaltar que tal problema ainda se faz presente em nossas escolas, o processo da professora é muito simples, incentivo a escrita e instigar o desejo pelo conhecimento, na leitura do Diário de Anny Frank, ao próprio trabalho literário, incrivelmente maestrado por ela.

Os alunos só terão sucesso na escola, no trabalho e na vida social se tiverem autoconfiança e auto-estima, como afirma Mora, tal trabalho de resgate do jovem pela professora é na realidade uma das ferramentas de êxito de seu trabalho.

O trabalho com a gramática em sala de aula se mostra cada vez mais difícil e complicado, mesmo com a nova Regra Ortográfica, ainda não autorizada pela ABL, o que dificulta ainda mais o preparo do aluno e a preparação de aula do professor, são detalhes que marcam a desmoralização intelectual do país, e do próprio professor que se distancia cada vez mais da qualidade educacional.

Voltando a palavra sonhar é o sonho que motiva os alunos no filme, é o sonho que infla a vela, e o trabalho da professora é o canal por onde o barco vai deslizar, isso é o sonho e o ato de sonhar do aluno que se dedica ao estudo, e um sonho que se sonha junto, parodiando Raul Seixas, o que é melhor.

Entretanto, a professora não se dedica a gramática normativa, ela a utiliza e a faz presente, mas é o uso da língua do jovem (marginalizado), seu universo que é retratado ali, como Eulália na novela de Bagno que se faz presente em todo livro como um poço de estudo e entendimento por parte daquelas que ali estão, ou mesmo, como diz Possenti[2]:

Em outras palavras, se ficar claro que conhecer uma língua é uma coisa e conhecer sua gramática é outra. Que saber uma língua é uma coisa e saber analisá-la outra. Que saber usar suas regras é uma coisa e saber explicitamente quais são as regras é outra. Que se pode falar e escrever numa língua sem saber nada "sobre" ela, por um lado, e que, por outro lado, é perfeitamente possível saber muito "sobre" uma língua sem saber dizer uma frase nessa língua em situações reais.

Não vamos descrever o filme, que é a base desse pensamento – sonhar – mas deixar aqui cunhado uma visão de humanismo e dedicação, ensinar a língua e sua literatura é parte integrante de um ato que é sonhar em ser e se fazer alguém.


BIBLIOGRAFIA



Possenti, Sírio Por que (não) ensinar gramática na escola / Sírio Possenti — Campinas, SF:

Mercado de Letras, 1996. (Coleção Leituras no Brasil)



Além do filme Escritores da Liberdade visto em sala.

[1] A afetividade e a auto-estima na relação pedagógica, texto faz parte livro a educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá . 2ª ed. Papirus, 2007, p. 55-59.

[2] Possenti, Sírio Por que (não) ensinar gramática na escola / Sírio Possenti — Campinas, SF: Mercado de Letras, 1996. (Coleção Leituras no Brasil)
 

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