VERVE.TENTE
Estudos e Reflexões FLÁVIO MELLO

LITERATURA

Category: By Flávio Mello
IRACEMA

José de Alencar



Prof. Flávio Mello

A obra romanesca de ALENCAR costuma ser dividida pela crítica em quatro áreas: a indianista, a histórica, regionalista e a urbana.

a) os romances indianistas, apresentam três fases do índio:

• Civilizado e dominado pelos portugueses na luta pela conquista da terra - O Guarani;
• os primeiros contatos dos brancos com os nativos na civilização do Ceará – Iracema;
• e o índio em seu estado natural, sem interferência do branco, longe da civilização, em época indeterminada - Ubirajara.

b) Os romances históricos, As minas de prata, o primeiro romance histórico de nossa literatura; A guerra dos mascates, e, ainda através das crônicas dos tempos coloniais e das novelas O garatuja e Alfarrábios.
c) Os romances regionalistas, através de O sertanejo e O gaúcho, reproduzindo costumes típicos e folclóricos dessas regiões. O tronco do ipê e Til, considerados romances sociais. Com Til, retrata os costumes dos ambientes paulistas nas grandes épocas do café. Com O tronco do ipê, apresenta o panorama das fazendas do Rio de Janeiro.

d) Os romances urbanos, são romances de amor, que espelham a mentalidade romântica da época, capaz dos maiores sacrifícios para solidificar esse sentimento. Exemplificam esse gênero: Cinco minutos, A viuvinha, A pata da gazela, Sonhos d'ouro, Lucíola, Diva, Senhora e Encarnação.

Além de romancista, Alencar foi teatrólogo, merecendo destaque as comédias Verso e reverso, O demônio familiar, As asas de um anjo, Noite de João além dos dramas Mãe e O jesuíta.

Como poeta, deixa-nos o poema indianista Os filhos de Tupã.

IRACEMA












Livro publicado em 1865, não obteve tanto sucesso quanto O Guarani, lançado em capítulos, no jornal – Diário do Rio de Janeiro, oito anos antes.

A principal editora do livro (Melhoramento), imprimiu entre 1934 e 1965, 17ª edições, num total de 120 mil volumes, sem contar as outras editoras.

DO LIVRO TEMOS:

• 113 edições em português;
• 01 em latim;
• 01 em inglês;
• 02 em Braille;
• 03 adaptações para verso de cordel;
• 01 para HQ.

Um dos maiores intelectuais a falar da obra, no lançamento, foi Machado de Assis.

“(...) que nem parece obra de um poeta moderno, mas de um poeta indígena, contada aos irmãos, na porta da cabana, aos últimos raios de sol que se entristece.”

e,

“Poema lhe chamamos a este, sem curar de saber se é antes uma lenda, se um romance: o futuro chamar-lhe-á obra-prima.”

e,
Pinheiros Chagas, escritor português de prestígio no tempo:

“(...) pela primeira vez se imprime finalmente o cunho nacional num livro brasileiro, (...)”

e, termina:

“a lançar no Brasil as bases duma literatura verdadeiramente nacional.”

As críticas se baseavam em:

• A falta de correção na língua portuguesa (sobre a negativa da língua brasileira diferente da portuguesa.);

• Neologismos e injustificações;

• Insubordinações gramaticais (critica centrada na linguagem).

Alencar tem a imagem de “revolucionário perigoso”!

É no séc. XX que Iracema começa a merecer uma melhor avaliação crítica. Pela livre analise da obra no enfoque gramatical ou etnológico.
Torna-se um cânone pela construção geral e lingüística do livro.

A Constituição do livro

A primeira edição de 1865 com 208 páginas, mas de texto narrativo apenas 156 (com grandes margens), uma carta de Alencar com 18 páginas. Inicio como prólogo e termina depois das notas sobre termos indígenas e informações históricas e geográficas ao leitor.

Assim, é uma novela envolvida por uma carta semeada de notas. Que deve ser lido nessa ordem, pois funcionam em conjunto.

Na definição do próprio autor:

• É um ensaio ou mostra;
• Uma literatura nacional;
• Original.

O Prólogo


Datado de Maio de 1865 é uma longa dedicatória – a um conterrâneo e amigo, só identificado na 2ª parte como Domingos Jaguaribe, primo e Deputado.
1ª Parte:

• Delineia uma boa forma de leitura;
• Um livro cearense ao povo cearense;
(um livro que fala sobre o Ceará)
O autor se preocupa que sua visão territorial não seja compreendida ou assimilada, por isso afirmar que ira encontrar o leitor ao termino da leitura.
2ª Parte:
O que nos chama atenção é que a segunda parte da carta nos mostra uma data diferente da primeira. O que temos no fim do texto é: “Agosto, 1865”. O autor faz questão de marcar isso, três meses de intervalo.

Com essa quebra de data, o autor dissolve o tom de conversação que expõe no inicio do livro, é nesse intervalo que se tem a revisão do texto, de meditação da primeira escrita, a revisão feita para a segunda edição.
A carta tem como objetivo revelar aos leitores o cuidado da idealização do livro, o projeto de uma literatura nacional, serve como bula, manual de leitura, por isso a obrigatoriedade da leitura sistemática do livro assim como o autor elaborou.
O ROMANTISMO

1ª Fase: Nacionalista ou Indianista

• Exaltação da natureza (Sabiá como símbolo);
• Retorno ao passado;
• Herói nacional (índio);
• Sentimentalismo;
• Religiosidade;
• Mulher idealizada e inatingível.

ANÁLISE DOS ELEMENTOS DA OBRA


NARRADOR


É em terceira pessoa, narrador onisciente,


“ O cristão contempla o ocaso do sol. A sombra que desce dos ,montes e cobre o vale, penetra sua alma. Lembra-se do lugar onde nasceu, dos entes queridos que ali deixou.” (cap. 6 - pg. 117)


O narrador, assim como disse Machado de Assis, conta uma história que já faz parte da cultura de um povo, uma lenda, que não se inventa na escrita de um livro, mas com intimidade.


ESPAÇO


A trama se passa na exuberante natureza cearense:


“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do Sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas
de coqueiros.
Serenai verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?
Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?
Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora;
Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço
das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem.
A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
— Iracema!...” (Cap. 1 - 95)


TEMPO


Tempo é rigorosamente cronológico, como veremos em um quadro a seguir, e se passa entre os anos de 1608 e 1611. Podemos ver alguns traços de uma narrativa linear, e bem precisa, marcada por elementos da descrição da natureza:


“O alvo disco da Lua surgiu no horizonte.
A luz brilhante do Sol empalidece a virgem do céu, como o amor do guerreiro desmaia a face da esposa.
— Jaci!... Mãe nossa!... exclamaram os guerreiros tabajaras.
E brandindo os arcos lançaram ao céu com a chuva das flechas o canto da lua nova:
“Veio no céu a mãe dos guerreiros; já volta o rosto para ver seus filhos. Ela traz as águas, que enchem os rios e a polpa do caju.
“Já veio a esposa do Sol; já sorri as virgens da terra, filhas suas. A doce luz acende o amor no coração dos guerreiros e fecunda o seio da jovem mãe.
Cai a tarde.” (cap. 16 - pg. 167)
DOIS MOMENTOS IMPORTANTES E POÉTICOS

(Tanto o parto quanto o amamentar Moacir)

Trecho 1
“Iracema cuidou que o seio rompia-se; e buscou a margem do rio, onde crescia o coqueiro.
Estreitou-se com a haste da palmeira. A dor lacerou suas entranhas; porém logo o choro infantil inundou todo o seu ser de júbilo.
A jovem mãe, orgulhosa de tanta ventura, tomou o tenro filho nos braços e com ele arrojou-se às águas límpidas do rio.
Depois suspendeu-o à teta mimosa; seus olhos então o envolviam de tristeza e amor.
— Tu és Moacir, o nascido de meu sofrimento.
A ará, pousada no olho do coqueiro, repetiu Moacir; e desde então a ave amiga em seu canto unia ao nome da mãe, o nome do filho.
O inocente dormia; Iracema suspirava:
— A jati fabrica o mel no tronco cheiroso do sassafrás; toda a lua das flores voa de ramo em ramo, colhendo o suco para encher os favos; mas ela não prova sua doçura, porque a irara devora em uma noite toda a colméia. Tua mãe também, filho de minha angústia, não beberá em teus lábios o mel do sorriso.” (cap. 30 e 31 - pg. 235 à 243)

Trecho 2

“A jovem mãe suspendeu o filho à teta; mas a boca infantil não emudeceu. O leite escasso não apojava o peito.
O sangue da infeliz diluía-se todo nas lágrimas incessantes que não estancavam dos olhos; nenhum chegava aos seios, onde se forma o primeiro licor da vida.
Ela dissolveu a alva carimã e preparou ao fogo o mingau para nutrir o filho. Quando o sol dourou a crista dos montes, partiu pa-ra a mata, levando ao colo a criança adormecida.
Na espessura do bosque está o leito da irara ausente; os tenros cachorrinhos grunhem enrolando-se uns sobre os outros.
A formosa tabajara aproxima-se de manso. Prepara para o filho um berço da macia rama do maracujá; e senta-se perto.
Põe no regaço um por um os filhos da irara; e lhes abandona os seios mimosos, cuja teta rubra como a pitanga ungiu do mel da abelha. Os cachorrinhos famintos precipitam gulosos e sugam os peitos avaros de leite.
Iracema curte dor, como nunca sentiu; parece que lhe exaurem a vida, mas os seios vão-se intumescendo; apojaram afinal, e o leite, ainda rubro do sangue, de que se formou, esguicha.
A feliz mãe arroja de si os cachorrinhos, e cheia de júbilo mata a fome ao filho. Ele é agora duas vezes filho de sua dor, nascido dela e também nutrido.
A filha de Araquém sentiu afinal que suas veias se estancavam; e contudo o lábio amargo de tristeza recusava o alimento que devia restaurar-lhe as forças. O gemido e o suspiro tinham crestado com o sorriso o sabor em sua boca formosa.” (cap. 30 e 31 - pg. 235 à 243)

IRACEMA TERRA VIRGEM














IRACEMA é a representação de um Brasil segredado e enigmático, ou um paraíso perdido.

IRACEMA também pode ser representada como a EVA e sua sexualidade a maçã (pecado), contudo Martim não pode ser Adão, devido não fazer parte desse paraíso.
IRACEMA representa a América descoberta e colonizada, Martim o nobre europeu, guerreiro valente e desbravador que “descobre” tal paraíso (ou segredo).


E o tão famoso anagrama: IRACEMA/AMÉRICA


Tão bem explorado na letra de Chico Buarque:

IRACEMA VOOU
Chico Buarque/1998

Iracema voou
Para a América
Leva roupa de lã
E anda lépida
Vê um filme de quando em vez
Não domina o idioma inglês
Lava chão numa casa de chá
Tem saído ao luar
Com um mímico
Ambiciona estudar
Canto lírico
Não dá mole pra polícia
Se puder, vai ficando por lá
Tem saudade do Ceará
Mas não muita
Uns dias, afoita
Me liga a cobrar:
- É Iracema da América

BIBLIOGRAFIA

ALENCAR, José de, 1829 – 1877. Iracema: lenda do Ceará; apresentação Paulo Franchetti; notas e comentários Leila Guenther; ilustrações Mônica Leite. – Cotia, SP: Atêlie Editorial, 2006. – (Clássicos Atêlie)

Revista – Entre Livros, edição especial de fim de ano, ano 2 Nº 20 – Duetto, pg. 26 e 27

IMAGENS


01. José de Alencar, Retratado por Alberto H enschel - Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro

02. Iracema, de Antonio Parreiras, 1909

03. Iracema, óleo sobre tela de José Maria de Medeiros

04. Iracema. Acrílico sobre Tela de Lena Gal, 2005
 

AMAR, SÓ SE FOR ArMADO

Category: By Flávio Mello
ou meu mais novo espelho/livro


Bom, aqui estou de novo... contudo, com alma nova, corpo novo... ou revivido, revivendo e vivo novamente, depois de longo hiato, depois de adormecido desde meados de 2006, surge meu mais novo trabalho Amar, só se for Armado..., não se iluda amigo, leitor, irmão..., não se iluda com o título, não é só de amor que vive o homem: há ódio, ócio, há dor, despreparo, imaturidade, como também há a mais forte e visceral paixão.


Aqui estou, novamente, despido, nu, sem roupas, desprovido da carapaça, diante dos olhos e ouvidos e bocas e insultos de vocês, não só insulto, não só aplauso, estou inteiro e em pé, diante de todos com um novo volume em mãos, com Poemas em prosa, com Crônicas vitimas de contos, Contos tão crônicos e temporais, tão atemporais e ao mesmo tempo CRONTOS, salve Pafundi, e salve Miranda...


Há duas jóias nesse livro: a nota do editor, mais irmão que amigo do que editor, que sintetiza minha obra em uma única estrofe metafísica:


“Então, leitor, se também te enganas ou se enganas..., o amor deste livro é uma sombra. Mas se te declaras, o amor deste livro é uma arma. Se te privas, o amor deste livro é uma pista e se pensa que amas, o amor deste livro é um drama.”


E meu mais novo amigo de pena, pena sem tinta, mas cor, que escreve com o peso da experiência e com a paixão de um verdadeiro gentleman, Hildebrando Pafundi em seu prefácio que nos diz:


“Posso assegurar que o contista Flávio Mello reúne neste livro, Amar só se for armado, excelentes histórias produzidas numa prosa, que possui a beleza da melhor poesia já escrita em prosa. Embora todas as histórias deste volume sejam excelentes, eu destacaria outras três, mais por uma questão de preferência pessoal, além de O Pilão, citado no inicio deste prefácio: O telefonema, O cheiro de frutas de dona Clô e Amor à francesa. Finalizo desejando ao leitor, uma boa viagem nesta prazerosa leitura de contos cheios de sensualidade e sutil ironia.”


Ah... que sorte a minha, que sorte a sua, que sorte a nossa... um livro com uma orgânica foto/imagem, tela em carne/nua/terra/sexual de Adriano Ávila, também amigo que antes mesmo que eu escrevesse esse hino ao amor cotidiano, já fotografava a luz do amor segredado.


Não sei leitor o que escrever para que leia meu livro, não vou falar dele... por isso falo desses amigos que ornam meus textos com seus ricos toques de Midas, com o soprar das velas nas noites que adormeci escrevendo, nas lufadas em minha alma para trazer-me a inspiração necessária... ah Deus... e o Senhor, ah meu querido e amado Guardião, obrigado.


Tenho sobre meu ombro direito minha amada e amiga esposa, que não há dela reflexo no livro (mentira), e minha doce e delicada filha adormecida junto aos anjos no sono dos justos ao meu lado, obrigado por estarem nas linhas delicadas.


Termino aqui essa missiva apresentativa/argumentativa de agradecimentos, dizendo:


Força na pena, luz no poema!

Flávio Mello
breve lançamento
 

MARATONA DAS OBRAS LITERÁRIAS

Category: By Flávio Mello

FUVEST/UNICAMP

CURSO GRATUITO


Data: 15 de novembro
Horário: 9h às 19h
Curso transmitido ao vivo pela internet;
Curso gratuito;
Vagas limitadas;
Inscrição para assistir em nossa unidade (apenas presencial);
Inscrição para assistir a transmissão ao vivo (clique aqui);


Horário...................Livro.......................Palestrante


09h15...............Auto da Barca do Inferno..........Daniel Vicola
10h15...........................Sagarana..........................Daniel Vicola
11h15....................Iracema....................Flávio Melo
13h00.....................Dom Casmurro..............Genivaldo Cavalcanti
14h00..................A Cidade e as Serras.............Rosana Fecchio
15h00...Memórias de Um Sargento de Milícias..Sueli Dutra
16:15..Poemas completos de Alberto Caeiro....Adriano Barros
17:15..........................Vidas Secas..........................Sueli Dutra
18:15.......................A Rosa do Povo...................Adriano Barros

:: Corpo Docente ::

Adriano Santos Barros: Professor Assistente da UnG, nos cursos de Literatura Comparada, Gramática Histórica e Lingüística Aplicada.

Daniel Vícola: Graduado pela UNESP em Letras. Professor de Língua Portuguesa do GETUSP.

Flávio Melo: Escritor, Palestrante e Professor – leciona Língua Portuguesa, Literatura (Brasileira, Portuguesa, Africana e Infantil), Blog do autor: www.flavio-mello.blogspot.com

Genivaldo Alves Cavalcanti Filho: Graduado e Licenciado pela Universidade de São Paulo em Letras - Italiano/Português. Desenvolve pesquisas sobre a relação entre cinema e literatura brasileiros.

Maria Sueli da Silva Dutra: Graduada pela Universidade de São Paulo – Letras. Colaboradora da Biblioteca Virtual do Governo do Estado de São Paulo.

:: Coordenação ::

Cláudia Oliveira: Graduada em Letras/Lingüística pela Universidade de São Paulo. Professor de Língua Portuguesa do GETUSP.

Força na Pena e Luz no poema!


Flávio Mello:



 

O HOMEM E O SEU CONHECIMENTO DE MUNDO

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Resenha
(Breve estudo sobre o conhecimento)



“Tantum possumus quantum scimus”
A medida do nosso poder é o nosso conhecimento.


Bacon

...


O homem sempre se assombrou ao desvendar a si próprio e ao descobrir o mundo que o cerca, de maneira direta ou indireta, como ao descobrir o fogo, tê-lo como meio de defesa ou de conforto, ou ao se deparar com as sombras nos interiores das cavernas e, admirar assim, as imagens advindas da exterioridade, pode-se ver em suas marcas, como na arte rupestre, deixadas em cavernas em diferentes pontos do mundo, a “evolução” de uma linguagem e de um poder intelectual que foi se superando na medida em que adquiriam mais experiência e conhecimento de mundo.


O filósofo inglês John Locke[1], considerado o pai do empirismo, com sua postura claramente racionalista, afirma: que o “conhecimento verdadeiro” e assim, universalmente válido, é aquele que abrolha a partir da percepção pelos sentidos. De tal modo, para essa corrente filosofia, quando o homem nasce sua mente é vazia de qualquer conhecimento, e é através dos sentidos e de sua percepção de mundo que vai adquirindo e enriquecendo seu conhecimento. Ao mudar o statu quo, essa idéia é apenas uma forma de ilustrar a evolução da mentalidade humana. Sabemos, que ao nascer já adquirimos fatores sensoriais, e tais fatores contribuem aos primeiro entendimento do mundo ao qual faremos parte.


O homem ao se deparar com a natureza percebe sua grandeza, e assim, o quanto pode desfrutar-se dela, no primeiro momento ele é submisso a essa grandeza tida como “absoluta” e o tempo e a experimentação lhe dão o domínio dessa força, e é nesse momento que o homem toma o controle das coisas, e passa a exercer sua postura de “ser superior”.

O homem então conhece Deus, ou como disse Ferreira Gullar o homem cria sua maior invenção o Deus, e é sobre ele que desenvolve seu conhecimento, voltando a ter a submissão, da natureza ao Ser supremo, pois uma das fraquezas humanas é o vazio existencial, neste momento a preocupação central do homem, isso na Idade Média, é estabilizar ou harmonizar a Razão e a Fé, neste período a filosofia passa a ser uma serva da teologia, pois a Igreja sofre com as diferentes culturas e visões de mundo que surgem com os domínios da igreja: muçulmanos e as invasões Bárbaras. Por isso, no momento em que a Filosofia começa a afirmar sua autonomia, ela é considerada uma ameaça à fé por apresentar interpretações alternativas da realidade (GILES, Introdução à Filosofia, 54) e deve ser contida.

De qualquer maneira o homem necessita da Luz, luz essa que pode ser advinda da chama de uma tocha, com o fogo provido por um raio em uma tempestade, ou a luz divina, luz da revelação, sendo assim, tais conhecimentos sempre terão suas bases na dependência de um “ser superior” ou de uma “força” que vá preencher suas necessidades, ou por ironia a sua Tabula Rasa.

Podemos perceber que as bases desses conceitos sempre foram o senso comum, ou aquilo que adquiro com o fator sensorial, não havendo assim espaço para a critica, mas apenas o encontro com a trilogia Fé-Medo-Esperança. O homem necessita fazer-se ouvir, busca desenvolver suas teorias e técnicas e com base em seus estudos e pesquisas provar o que supões da existência, isso margeado pelo mundo, pela fé e pela ciência, com o conhecimento cientifico busca embasamento para provar o que pensa. Esse conhecimento vai ultrapassar o método empírico, se desenvolve além dos prodígios, suas causas e suas leis. Aristóteles[2], afirma que o conhecimento só se dá de maneira absoluta quando sabemos qual a causa que produziu o fenômeno e o motivo, assim o homem passa a pesquisar, experimentar e desenvolver teorias que provem um determinado objeto de estudo, não se firma em hipóteses para isso, mas sim na certeza advinda do estudo e da pesquisa.


NOTAS

[1] John LOCKE (1632 – 1704): Nasceu em Wrington, Inglaterra. Estudou em Oxford e formou-se em Medicina. Foi perseguido pelos Stuarts e exilou-se primeiro na França, onde pôde conhecer as reflexões de Descartes, e depois na Holanda. Por volta de 1671 costumava discutir sobre os princípios da moral e sobre os fundamentos da religião revelada. Insatisfeito com todas as respostas resolveu estudar “o mecanismo da nossa mente, suas capacidades, seus limites”, isto é, como a nossa mente é capaz de chegar ao conhecimento, como forma as idéias. Entre suas obras são citadas: Ensaio sobre o entendimento humano, Tratado do Governo Civil e Cartas sobre a tolerância. O estudo do seu pensamento enfatiza a questão do conhecimento e a questão do governo.

[2] ARISTÓTELES (384-322): Filho de um médico da corte da Macedônia, Aristóteles nasceu em Estagira[2], pequena cidade da Trácia (Macedônia)[2], ao norte da Grécia. Estudou em Atenas, onde foi discípulo de Platão na Academia. Tornou-se educador de Alexandre Magno, filho de Filipe, rei da Macedônia.

BIBLIOGRAFIA

HUISMAN, D. e VERGEZ, A. – História dos Filósofos ilustrada pelos textos. 5ª edição. Rio: Liv. Freitas Bastos, 1982

SAVIANI, D – Educação: do senso comum à consciência filosófica. S. Paulo: Cortez



 

FIANDO LINHAS AS ESCURAS

Category: By Flávio Mello

Bom, estou ouvindo um CD chamado Fiandeiras do Pantanal - Tetê Espíndola de 2002, na verdade ouço um CD com poemas musicados e cantados por Tête e recitados por Raquel Naveira, e é sobre ela de quem vou falar hoje.

Estou fazendo um curso de pós-graduação e fui honrado com algumas aulas dessa poetiza ímpar que fez questão de nos anestesiar com suas poesias ao longo do curso ministrado por ela, curso no qual nos fez produzir interminavelmente, que gerou certo desconforto por parte de alguns improdutivos..., o que não vem ao caso, na aula que tivemos hoje (04/10/2008) Naveira nos deliciou com suas leituras e com um dos poemas cantados por Tête do disco que já citei, ficamos com aquela sensação de... num sei de que... mas ficamos, bom pelo menos eu fiquei, ao chegar em casa corri ao computador e fiz como de costume minhas buscas, queria encontrar o CD de Naverira e Tête, e assim... depois de pouco trabalho achei-o.

E é ele que agora faz fundo para essa pequena e despretensiosa crônica.

Todos já sabem o meu apreço por música, já falei nesse espaço em outra ocasião, claro que falei do gênero que muito aprecio, mas não deixo de ter os ouvidos abertos, o coração em chama e a mente ligada.

Após conseguir o tal almejado CD dei busca em outros arquivos sobre minha tão poética professora, para minha surpresa achei o seguinte comentário feito por um monstro, e infelizmente falecido, Deus sabe escolher os seus, Artur da Távola, que diz: Como é possível produzir tanto e tão bem... Ensine-me o segredo. O Arado e a Estrela é um livro de ensaios ou crônicas...Importa que ótimas. Prefiro lê-lo como crônica. Assim o gênero ganha mais uma cultora. Parabéns.

Não vou continuar expondo aqui, outros comentários, creio que o de Távola sintetize o meu desejo frustrado de, tentar, dizer algo sobre essa incrível mulher, não vou expor o comentário de Affonso Romano de Sant’anna, como também não vou expor o de Antonio Houaiss, os nomes já bastam.

A vida nos revela em seu tecer, em sua linha da vida, assim como a fiandeira, como a aranha ou os fios de cabelos, posso até mesmo citar de forma orgânica os tentáculos ígneos das águas-vivas, que a poesia é o alimento da alma, a poesia nos faz sorver instantes de ternura oferecidos por colibris feitos de luz, é a poesia o estar e o ser das coisas, e os poetas, ah... os doudos poetas, colibris feito de luz, são as portas escancaradas para o coração do lirismo e da verdadeira alma humana.

Deixo um poema dessa incrível mulher e poetiza, espero que o coração de vocês berre como berrou o meu nesse ano,


CABELO


Estou triste,
Cortei o cabelo.
Não sou mais adolescente
De tranças
E olhos lânguidos.
Não sou mais moça,
Balançando a crina,
Como égua musculosa
Na colina.
Não sou mais princesa,
Usando tiaras,
Arrastando a coma
Como se tivesse na cabeça
A cauda de um cometa.
Adeus, cabelame!
Derrame de seiva sobre meus ombros,
Véu natural
Com que penetrava câmaras ardentes.
Por que cortei o cabelo?
Por que não o mantive longo,
Mesmo branco e seco,
Preso na nuca
Por marfim e pentes?


RAQUEL NAVEIRA


SOBRE A AUTORA


Nasceu em Campo Grande, em 23 de setembro de 1957.
Profissão: Professora universitária.Atividades culturais:Produtora e apresentadora de programa literário semanal na TV UCDB.Membro titular do PEN Clube do Brasil (RJ), eleita no dia 14 de janeiro de 2000.


Obras publicadas:


Via Sacra – 1989
Fonte Luminosa – 1990
Nunca-Te-Vi – 1991
Fiandeira – 1992
Guerra Entre Irmãos – 1993
Sob os Cedros do Senhor – 1994
Canção dos Mistérios – 1994
Abadia – 1995
Mulher Samaritana – 1996
Maria Madalena – 1996
Caraguatá – 1996
Pele de Jambo – 1996
O Arado e a Estrela – 1997
Rute e a Sogra Noemi – 1997
Intimidades Transvistas – 1997
Casa de Tecla – 1998
Senhora – 1999
Stella Maia e Outros Poemas – 2001
Xilogravuras – 2001
Maria Egipcíaca – 2002
Casa e Castelo – 2002
Tecelã de tramas - ensaios sobre interdisciplinaridade - 2005


Outras informações:


O livro Senhora recebeu o prêmio Jorge de Lima-Brasil 500 anos, concedido pela Academia Carioca de Letras e pela UBE/RJ - novembro de 2000;
2º lugar no prêmio Oscar Mendes, categoria ensaio, com o livro Maria Egipicíaca;
Apresentação do livro de fotos, do fotógrafo Fábio Colombine, intitulado “Pantanal – cores e sentimentos”;
Os livros “Abadia” (1996) e “Casa de Tecla” (1998) foram indicados ao Prêmio Jabuti de Poesia da CBL.
Sócia-correspondente da Academia Mineira de Letras.


SITES (visitados e visite):


 

TRÊS CÂNONES OU TRÊS COLUNAS HUMANAS

Category: By Flávio Mello


Cânone (Ficção) conjunto de obras que são

consideradas "genuínas", "oficiais" dentro

de um determinado universo fictício.


Criar aqui uma lista de cânones seria de minha parte totalmente irresponsável, uma vez que tal lista é de certa forma subjetiva; também não vou criar uma dezena de possibilidades onde o leitor possa deduzir se há cânones ou não nos livros e autores que por fim eu acabar citando. O que vou fazer na verdade é trazer três livros, ou três autores, que julgo importantes serem lidos, obras que são relevantes para a formação parcial de uma mentalidade produtora e criativa, de caráter, de preocupação humana e social.


Acredito realmente que cada escritor traga em seu cerne uma lista de autores que o ajudaram a se formar como produtores de sonhos, de dominadores da palavra, mesmo sendo ela um touro feito de chamas, eu em certo ponto, tenho dentro de mim três autores que julgo de extrema importância para a formação de um caráter realmente humano, de aprofundamento ao ser, também de reflexão e auto-avaliação. Assim, descrevê-los-ei de forma cronológica, sem apegar-me a importância ou escola literária, primeiro – A Metamorfose de Franz Kafka, livro que julgo ser de uma racionalidade quase que atípica, mesmo se tratando de um livro que tem como personagem principal um homem-verme, ou barata conforme a tradução e o gosto popular, esse livro revela em sua entranha a que ponto um homem, ou ser humano, pode chegar à introspecção, isolamento, solidão, desvalorização moral, achincalhamento e não representar impacto persuasivo em sua vida. A metáfora homem/verme (leia-se barata), ou verme/homem, é nada mais que o se diminuir perante o todo.


O segundo livro é o Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago, que traz em si as mesmas características de A Metamorfose, entretanto, no bojo coletivo, de tal maneira que o homem/verme passa a ser grupal e todos voltam aoseuestados primitivos, isso em sua totalidade e essência. Guiados pelos olhos de uma mulher, que pode ser representada como a esperança ou mãe de todos os homens, pois é ela que aprende a olhar todos com olhos complacentes e ternos, sem o julgamento visceral que o ser humano traz consigo, é ela quem socorre e adverte dos maus, que perdoa o marido que prova de outra carne aos seus olhos, revelando seu estado animal, é ela quem revela o que realmente somos ao nos lavar nas águas mornas da última chuva.


Por último, e não menos importante, temos o livro de contos de Dalton Trevisan, Cemitério de Elefantes, podemos encontrar nessa obra do Vampiro de Curitiba personagens que vivem à margem da sociedade, que revelam a fragilidade e a inocência humana, o próprio estado de “ser humano”, com suas fraquezas, arrependimentos, duelos, medos, complexos e necessidades tão afloradas no cotidiano de um mundo cada vez mais solitário e hedônico. Um livro recheado de contos curtos, porém profundamente preocupados em revelar o que de fato somos, ou o que de fato pensamos ser.


Podemos perceber que a “lista” apresentada não nos revela cânones consagrados pela literatura mundial, ou leitores mundiais, como Dom Quixote, A Divina Comédia, Guerra e Paz, Eneida, Odisséia e tantos outros que já sabemos de que se trata antes mesmo de os lermos. Essa tríade apresentada é afortunada de tal modo que ao ser lida pode revelar aos olhos “cegos”, ou as pessoas “perdidas” ou “esquecidas” que há muito mais em nós do que podemos imaginar, sem parodiar Shakespeare, ou Machado de Assis, cânones não citados aqui. Esses livros podem ser lidos como “manuais de reparos humanos”, pois através deles podemos nos identificar facilmente com um Gregor Samsa, uma Rapariga de óculos escuros, ou com o corpo sem vida de Dario. Cada um pode formar suas presunções, lendo ou imaginado o que aqui foi dito.


foto: Jean-Louis Barrault in Kafka's, 1946
 

JANELA DA LIBERDADE E OUTRAS HISTÓRIAS

Category: By Flávio Mello


Hildebrando Pafundi

Santo André, dia 28 de Setembro de 2008, 16h...

Fui à livraria Nobel onde com muita honra encontrei um senhor (todo poesia) sentado, quieto em uma confortável poltrona preta, cercado por inúmeros livros, mas livros que se tornaram apenas decoração, pois os mais importantes estavam ao seu lado, os de sua autoria.

Conheci Hildebrando Pafundi (http://www.cliqueabc.com.br/), por acaso mesmo, em um livro, seleta, que tive o prazer de fazer parte ao seu lado, talvez só isso já tenha valido a pena, uma vez que... bom... o importante é que conheci-o por lá, Casa das Rosas, Seletas de autores, todos os escritores que assinaram seus respectivos contos em meu livro, fiz questão de enviar um e-mail a medida que ia lendo o livro, Hildebrando foi o primeiro, é a tal química que dizem, adorei o seu texto Janela da Liberdade (Entrelinha, 2007, pg. 199 e 200 – Livraria Cultura), tentei de modo singelo dizer o que havia sentido ao ler o belo conto que nos leva a infância perdida... uma infância que nós adultos fazemos questão de esquecer por pura ignorância, mas toda aquela poesia, nossa... foi incrível, fizemos alguns contatos depois disso, e por minha parte uma grande admiração foi se formando, senti recíproca, mas como sou um daqueles pessimistas... fazer o que... formei-me todo em “Simbolismo” e “Mal do Século”, aí e mais aís... (risos), fizemos uma tênue amizade, e cyberexistimos.

Tive a oportunidade de colaborar de maneira bem sutil com sua mais nova publicação (PAFUNDI, Hildebrando, A janela da liberdade e outras histórias; ilustrações de Alex Alves de Souza. Guarulhos, SP; Editora Espaço Idea, 2008.), um livro lindo, colorido em desenhos e linhas que delineiam toda a experiência e poesia de um grande escritor, não preciso fazer propaganda, não é minha intenção, uma vez que se trata de um escritor de maestria no oficio... penso que minhas palavras não influenciariam nas vendas.

Hoje foi um dia muito bom, conheci pessoas interessantes como os organizadores da Revista Cigarra Jurema e Zhô Bertholini – figuras magníficas em inteligência e simplicidade. Claro em se tratando de Pafundi seus amigos, obviamente seriam pessoas impares.

Bom, escreverei mais sobre o livro logo... hoje apenas algumas palavras de puro prazer e entusiasmo. Por isso paro por aqui, antes que esse texto fique chato.

Boa noite (22h)
foto: Tirado por Flávio Mello no evento
 

Como usar diferentes midias em sala de aula

Category: By Flávio Mello


Créditos:


Video/aula feita pelo Aluno Felipe Manoel dos Santos (2º Ano EM) do Colégio Santo André, a pedido e orientação do Professor Flávio Mello da disciplina de Arte, Língua e Produção de Textos, com contribuições valiosas e diretas de Ricardo Guimarães de Matemática e Rosimeire Mello de Biologia e Artes para apresentação na IV Feira Cultural Colesan.

fotos do evento:

maquete de uma cidade do sertão mineiro, reproduzão em areia.

painel em madeira e tinta plástica (1,5m x 3m), feita pelo Professor Flávio Mello, Guimarães Rosa e ao fundo mapa de sua viagem pelo sertão brasileiro.

 

O TEMPO, A ARTE – E BURGO DE AREIA

Category: By Flávio Mello

Livre associação da revista continuum

Primeira parte


“O homem de ontem não é o homem de hoje.”

Jorge Luis Borges

“presente das coisas passadas,
presente das presentes,
presentes das futuras.”

Santo Agostinho




Pois bem, caminhando por um dos milhares de corredores de uma colossal biblioteca, que em seu cerne agrupa a iluminação deixada por uma infinidade de pensadores, não importando seus campos – ciência, arte, arquitetura, filosofia, sociologia, literatura, astrologia e um sem número de áreas, dependendo do ângulo que se vê, caminhando por esse corredor, dobrando suas esquinas, percorrendo suas paredes compostas por prateleiras forradas de tomos de diferentes aspectos, formas, espessuras, materiais que vão desde o mais fino e rústico couro e do pergaminho ao papel mais rico e ornado com partículas ricas e singulares, há uma concentração de tempos que ferem como punhais com suas palavras a película delicada do tempo, assim como uma tempestade de areia que chega de surpresa envolvendo a tudo e a todos, essa concentração de tempo traz em seu bojo, isso na disposição desses livros nas prateleiras, visinhos incabíveis como Homero, Dante, Borges, Saramago e mesmo Machado de Assis, autores, pensadores de um ontem presente, de um presente continuo e de um futuro palpável, um futuro vivo e físico, de pé diante de seus olhos, como isso? Como é possível as palavras serem fios amolados há perfurar o tempo, fácil dedução e compreensão, é a carne que apodrece é a matéria que finda... o espírito desses escritores ganha a imortalidade no papel rasgado a bico de pena, lavado de nanquim ou perfurado por tipos e máquinas de escrever.




Com isso é fácil visualizar em um lençol de luz uma cena inusitada como o minotauro atravessar as paredes grossas de livros e percorrer os corredores dessa gigantesca biblioteca como em seu labirinto, ou quem sabe ver Pessoa e seus eus perambulando as paginas pajeando as palavras como ovelhas e rindo de gigantes que se espremem nas paredes das brochuras.

O que isso significa realmente (se é que é possível falar de realidade dentro da geografia da literatura), darei um exemplo, dentro da infinitude que há no universo ficcional,




“- Nesse caso – disse-lhe resolutadamente –, o senhor se chama Jorge Luis Borges. Eu também sou Jorge Luis Borges. Estamos em 1969, na cidade de Cambridge.
- Não – respondeu-me com minha própria voz um pouco distante.
Depois de um tempo, insistiu:
- Eu estou em Genebra, em um banco, a alguns passos do Ródano. O estranho é que nos parecemos, mas o senhor é muito mais velho, com cabeça grisalha. (BORGES, 2001, p. 8)”





muito bem, eis um exemplo grandioso da geografia da literatura, esse dialogo que aparentemente é um diálogo normal, visto assim despregado do contexto original “apresenta” dois indivíduos a trocar informações em pontos diferentes e sentados em um banco de praça, contudo não há de fato duas pessoas, trata-se do conto O Outro de Borges, onde ele encontra ele mesmo em outro lugar em outra data sentados em um banco onde há um surreal encontro e uma surreal troca de espantos, o mesmo espanto que o leitor sente ao perceber esse “fato obscuro” da ficção borgiana.


Para finalizarmos essa visão onírica da geografia literária devemos compreender que o tempo é maleável, como uma ponte feita de poeira, ou como uma tempestade de areia que pode soterrar uma cidade e deixá-la no esquecimento. O que desejamos trazer de dentro dessa tempestade de areia, feita de palavras, é a ruptura que o tempo sofre quando um leitor ou um escritor em uma época especifica abre um livro “clássico”, para podermos compreender melhor tal linguagem, e lê em voz alta um verso, uma estrofe ou um parágrafo, quando Machado de Assim revive Shakespeare em seu conto, atravessa as paredes grossas da realidade junto às areias que formam a geografia da literatura e do tempo.




A MORTE DE CRONOS




Segunda parte





A tal passagem de que falamos, aquela que fere o tempo, que transpassa a linearidade comum das coisas, também se faz presente ao nos depararmos com outro tipo de arte, já que falamos na literatura, as artes plásticas, por exemplo, pode servir de segundo plano ao que narraremos agora, pois bem, eis que nos deparemos com o Portal do Inferno[1] de Rodin, esculpido em sagrada inspiração sobre a Divina Comédia de Dante, se nos mantivermos parados diante dessa magnífica peça, podemos perceber que tal portal hoje exposto como simples artefato de arte, pictoricamente pode nos servir de uma passagem para um universo parecido sobre o qual falamos a pouco, isto é, ao passarmos psicologicamente tal portal nos veremos perambulando ao lado de Dante e Virgilio nos caminho pecaminosos de um inferno ou de um purgatório rumo a ascensão e ao encontro de Beatriz.

Ao falarmos em ascensão podemos ver o tempo dentro da concha sacra, dos ícones de pinturas chapadas que traziam em seu cerne a mais profunda elevação espiritual, com fundos dourados e auras grandiosas que traziam nas entidades representadas um teor divinizado, ora vejamos a idéia do artista sacro como a procura pela estética arcaica, pela forma transportada de forma que o espectador acredite que ali esteja realmente o santo, o Cristo etc.




Quando Monet pinta sua serie de telas representando a passagem de tempo sobre a Catedral de Rouen ele, em uma linguagem primária de fotografia, revela a morte do tempo nas cores que vão se tornando mais escuras e nas pinceladas mais tênues e calmas que só o decorrer do período pode oferecer, isto é, do amanhecer ao anoitecer o tempo envelhece assim como a matéria que ele desgasta e esconde com suas sombras.



De forma hermética podemos deduzir que o furo no espaço/tempo/realidade onde é possível ultrapassarmos os limites e nos transportarmos para um mundo “virtual”, através de portais, como a internet, por exemplo, ou mesmo o portal do inferno de Rodin, e nesses universos usarmos a realidade no irreal/temporal – estando próximo o bastante do mesmo sentimento hedônico, do mesmo consumismo, em busca de um espaço cobiçado em nosso mundo real.


[1] A Porta do Inferno. Escultura de Auguste Rodin (séculos XIX-XX). Museu Rodin, Paris. Em gesso. 576 x 380 x 130 cm.





texto continua...
 

O BLOG VERVETENTES

Category: By Flávio Mello


Este Blog tem como intuito inicial ser um trabalho em desenvolvimento contínuo, um trabalho desenvolvido pelos alunos de Pós-graduação da Uni nove, com orientação, e méritos, do Professor
Enio Moraes Jr(1), jornalista, professor universitário, doutorando em Ciências da Comunicação.

Para podermos entender o universo do meu blog, primeiramente devemos compreender o seu título, assim: verve: a inspiração poética dos autores somada a tentes, neologismo retirado do título do curso Praticas e Vertentes. O universo que migro, ou que percorro é baseado na literatura, arte de modo geral, com grande apreço à literatura africana, como podemos ver nas imagens de apresentação, e que migrarei em meu trabalho de conclusão de curso e futuros estudos.

A idéia de ter um blog como “caderno” de estudos é para mim muito interessante, pois não visualizava assim tal ferramenta, mesmo tendo um outro blog onde desenvolvo meu trabalho literário e intelectual, contudo esse blog tem um intuito diferente, refletir e analisar temas voltados a educação e ao curso propriamente dito, sem esquecer da idéia de utilizá-lo em meu trabalho como professor, ou até mesmo em minha palestras ao logo do país.

Gostaria de deixar claro aos amigos visitantes, que não sou, e não somos, detentores da certeza, tenho isso como máxima, caso queiram ressaltar, alertar ou comentar estou a disposição para qualquer tipo de discussão sadia e trocas de experiências.



Flávio Mello
Escritor e Professor


 

Lírio

Category: By Flávio Mello

Quem te fez chorar:
O sol,
O som do mar?
Eu vi quando a onda lambeu seus pés,
Pequeninos pés...
Vi quando o anjo se curvou sobre nós,
Quando as águas salgadas,
Que não nos eram lágrimas,
Serviram de melodia para o calor do sol.
Ai, minha filha...
Eu vi quando você me veio correndo...
Ouvi quando, como ladainhas,
Veio-me chorando...
Não se assuste querida
São coisas da vida.
- Deus ao homem o mar deu,
E ao seu pai a alegria
De vê-la caminhar nas areias finas,
Tendo como cenários
profundezas do Mar!
Flávio Mello
 

Estudo sociolingüístico da letra da música O Meu Guri de Francisco Buarque de Holanda, localização no texto de marcas do dialeto social popular.

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por Flávio Mello



O MEU GURI
Chico Buarque - 1981




Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando não sei lhe explicar
Fui assim levando, ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
Que chegava lá, olha aí, olha aí


Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri e ele chega


Chega suado e veloz do batente e traz
sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, olha aí


Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri e ele chega


Chega no morro com o carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, olha aí


Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri e ele chega


Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que ta rindo
Acho que tá lindo, de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço?
Ele me disse que chegava lá, olha aí, olha aí


Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri


Explanação sobre a letra


O MEU GURI


1º Contexto Geral

A pequena narrativa, por que não dizer pequeno conto, se passa no morro carioca “Chega no morro com o carregamento”, em tempos atuais, a narrativa é cronológica “De repente acordo, olho pro lado”, onde descreve o dia-a-dia, o ardil, e, os progressos das personagens; Psicológica, basta nos depararmos quando a mãe evoca “E na sua meninice ele um dia me disse / Que chegava lá...” anunciando que num passado (superficialmente próximo), em meio à pobreza e a vida difícil, ele, o filho jura que dias melhores virão, virão de uma forma ou de outra.


Sendo assim, é fácil deduzirmos que tendo como maus exemplos o tráfico, os assassinatos, corrupção, extorsão policial, prostituição, a ida e vinda do tal dinheiro fácil, o molde desse Guri tenha sido o que o autor vem a retratar na letra. Chico Buarque faz o raio-x não só das favelas cariocas, mas de todas as favelas, ou grandes acúmulos de pessoas carentes, miseráveis etc., do Brasil.


A personagem principal um “delituoso”, menor, “Chega estampado, manchete, retrato” e como secundários a mãe, ainda jovem, “Quando, seu moço, nasceu meu rebento”, e o repórter a quem a genitora do “guri” narra sua pequena saga, do berço pobre a morte pela policia, a quem a mãe chama de seu moço “Desde o começo, eu não disse, seu moço?”.


Em suma, a letra aponta de maneira poética, até mesmo delicada, fatos cotidianos dessa grande classe carente, a tempos abdicadas das coisas mais simples, como um emprego, saneamento básico, escolas, faculdades... Uns com tanto, outros com quase nada, outros com mais nada ainda. A geografia “civil” do Rio de Janeiro é o marco do contraste econômico brasileiro, creio ser o mais significativo, de um lado o morro, a favela, o tráfico, de outro o Cristo, que muitos do morro dizem estar de costas para eles, Copacabana, Ipanema, linha amarela divisa de bens, amarela divisa de saúde.


1º Marcas do dialeto social popular


As letras, de Chico Buarque em cunho social, como elucidação do que realmente é o carente são muito fáceis de se detectar, já que esse é o pano de fundo do compositor, escritor, dramaturgo e músico, se nos debruçarmos sobre o texto Calabar, por exemplo, veremos marcas do tal “dito popular”, como a personagem Bárbara, Ana e o próprio Calabar, que ver de CALA a boca BAR-bara, onde a censura, à admoestação, impedia os artistas de abordarem os fatos sociais, políticos e até mesmo artísticos, não muito longe encontraremos A Ópera do Malandro, nela nos deparamos com Geni, prostituta, o Malandro carioca entre outros tipos fáceis de se detectar em nosso cotidiano, muitos são os textos onde Chico aborda a classe carente, e, o contraste entre classes, nesse ponto um tipo significativo é o seu primeiro romance Estorvo, onde a personagem migra entre a classe alta e a classe baixa, descrevendo a coluna econômica brasileira de forma dilacerante.


O que acima retrato é tão somente, a parte de uma obra tão significativa de um autor que tem como preocupação, ao menos o tinha, o revelar, o desvendar o que se passa, se passou ou quem sabe se passará numa megalópole milionária que é o Brasil inaccessível.


A letra O Meu Guri é um ponto minúsculo, micro, de uma obra voltada a preocupação social, de um compositor politizado, lido..., de estirpe. A raiz principal, da letra aqui abordada, é, tão somente revelar o que é de fato a vida no morro carioca, com suas figuras bem conhecidas por todos, porém o autor com sua malicia nos leva muito além de que os olhos nus podem ver, como por exemplo, a mãe menina que concebe outra criança, criança que cuida de criança, criança que vê no filho seu homem, o fálico invertido, de mãe para filho / marido. Por fim, o que os olhos de poder e governo não querem ver, encobrindo com luzes e escadas-rolantes para inglês ver.


As marcas dialéticas são fáceis de ser encontradas, basta analisar o conteúdo do solilóquio da mãe desse guri, o uso do português coloquial “Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro”, “Boto ele no colo pra ele me ninar”, o uso constante de seu moço, que arremete uma marca social de pessoa simples se explicando a uma pessoa importante, de classe alta. O próprio título carrega essa marca, O Meu Guri, percebesse a contigüidade popular, “Chega no morro com o carregamento / Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador” estes dois versos transplantam para a letra as marcas de algumas gírias de grupos periféricos, como pneu = carro, pulseira = jóias etc., poderíamos até, quem sabe, dizer que esse cimento venha a ser a droga vendida, e, consumida no morro.


Percebesse na obra a diacronia, como se estivéssemos lendo, ou, assistindo um tele-jornal sensacionalista, onde encontramos esses tipos “Chega estampado, manchete, retrato / Com venda nos olhos, legenda e as iniciais” crianças que se perdem num mundo de treva, de dor e de um futuro abortado.



letra MEU GURI in.: HOLLANDA, Chico Buarque de - Tantas Palavras; São Paulo : Companhia das Letras, 2006. pg. 318


foto in.: olhares.aeiou.pt/.../foto450052.html

 

O MATRIMONIO DO SOL COM A TERRA

Category: By Flávio Mello
(Raios do Sol incidem sobre cristais de gelo e gera halo)

Na manhã dessa sexta-feira deparei-me com um enorme halo no céu de São Paulo, eu e todos os paulistanos, uma imagem única e mágica que apenas a natureza e sua delicadeza poderia alcançar, isso por que sua paleta de cores é universal e suas pinceladas são singelas e perfeitas.


Tal fenômeno, automaticamente, me fez lembrar uma crônica de Rubem Braga, O Pavão, “O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.” Olhando para o céu fui invadido por essa poesia que se insere perfeitamente nas cores do escritor capixaba.


“O pavão é um arco-íris de plumas.” contudo tal halo se revelou para mim como a aliança entre o Sol e a Terra (vi a personificação do amor do sol para com a terra), como se o universo, esquecido, ou quem sabe despreocupado com tal fuga permitisse o contato impossível dos seres separados há eras.


Parado, como estava, contemplando o maravilhoso, a jóia árabe, o anel de Deus – me senti, por um momento eterno, o ser privilegiado e escolhido por Ele para ser a testemunha do casamento entre o Sol e a Terra.



Flávio Mello

30/08/08

10h 06

foto fonte:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u439344.shtml - 30/08/08 - 10h 14min

 

A rosa dos ventos

Category: By Flávio Mello


Surge a Menina de cabelos ruivos e apanha na roseira, rente a janela do quarto do velho, um botão de rosa, murmureja uma dessas canções de pré-escola, senta-se na amurada que abraça o poço.

A flor, de tom vermelho rubro, sente a mão da Menina de cabelos ruivos a lhe estrangular, a menina em humano sinal começa a despetalar-lhe, a rosa por sua vez agüenta calada, pétala por pétala vão indo ao chão, como torpedos sobre arraial devastado, e ao cair das pétalas, a menina, ainda não contente com os seus gestos primitivos, pisa torcendo a ponta do pé sobre as falecidas capas de flor, a rosa sangra, chora, geme, treme, sua, contorce, falece, dali a pouco a Menina de cabelos ruivos se levanta, limpa o bumbum batendo com as mãos no vestidinho azul turquesa, deixa o talo de rosa morta na amurada, cantarolando, sai saltitante em direção ao cheiro de bolo.

No beiral o talo de rosa defunta.

O vento sopra..., cinza-cru renasce o céu, forte, sombrio, sopra o vento, cor sangue em raios vivos desfazem o azul, o talo é jogado ao fundo do poço, se tentar os ouvidos pode-se ouvi-lo ruir, sentir os espinhos tentando inutilmente agarrar-se às paredes do poço, e, o som do ser que cai como tábua em águas desconhecidas.

As pétalas são erguidas pelo vento, são levadas ao céu que se abre em funil, as pétalas são abertas em abraços róseos no céu, e, em redemoinho encontram os jardins suspensos de Deus.






(in Seleção Natural)

Flávio Mello
 

O PILÃO

Category: By Flávio Mello

FLÁVIO MELLO


Na entrada do casebre, ergueu a barra do vestido à altura dos joelhos, sentou-se num dos três degraus debaixo da alpendrada, despejou os grãos dentro do pilão e o acomodou entre as grossas e torneadas coxas. Socando e torcendo, enquanto o suor lhe umedecia o peito, despertando um par de mamilos agudos e delicados, assim, cantarolava cantigas que aprendera com a avó materna, escrava de um ontem meio que distante, porém tão próximo que ela, neta delgada, morena jambo, entardecer sobre mobília de jacarandá polido, ainda guarda nas costas as marcas da infância de grilhões e pelourinho.

Esmigalha os grãos já torrados e selecionados. O som do pilão é uníssono, assim como todo entardecer antes de ser engolido pelo lago e pela mata. Assim como o cantar das lavadeiras, o som se perpetua, fazendo-se parte de um coro de maritacas e araras azuis em revoada. O som das chinelas — em revoada — se espalha pela cozinha, a água no fogão à lenha borbulha, o som típico denuncia o tempo, estalos da madeira verde.

Apanha o coador de saco num armário de cor rosa descascado, despeja o pó dos grãos de café por ela moído, despeja a água fervente e a tintura escorre para dentro de uma chaleira improvisada. Sente dentre o aroma do café o cheiro da pesca, ouve entre o canto dos pássaros o som do remo, sente o toque delicado da chalana no pequeno cais na beira do lago, sente o braço peludo e musculoso do pescador agarrá-la por trás, sente o fluido escorrer por entre as pernas, já que calçolas não usava, sente os dedos grossos e sisudos percorrerem os pêlos eriçados, o aroma do café adentra a narina aberta, a barba roçando a nuca, o contorcer do pilão e as duas cinturas se unem, sente o membro rijo tocarlhe as nádegas úmidas, sente o gosto da língua, da cachaça, um desmaio, um breve e delicado desmaio, e, desperta na cama, ouvindo o som do remo e o canto da maritaca se distanciando, se distanciando, se distanciando em revoada.



in ENTRELINHAS - ANTOLOGIA DE CONTOS E MICROCONTOS - Ed. Andross