LITERATURA
José de Alencar
a) os romances indianistas, apresentam três fases do índio:
• os primeiros contatos dos brancos com os nativos na civilização do Ceará – Iracema;
• e o índio em seu estado natural, sem interferência do branco, longe da civilização, em época indeterminada - Ubirajara.
b) Os romances históricos, As minas de prata, o primeiro romance histórico de nossa literatura; A guerra dos mascates, e, ainda através das crônicas dos tempos coloniais e das novelas O garatuja e Alfarrábios.
IRACEMA
• 01 em latim;
• 01 em inglês;
• 02 em Braille;
• 03 adaptações para verso de cordel;
• 01 para HQ.
Um dos maiores intelectuais a falar da obra, no lançamento, foi Machado de Assis.
Assim, é uma novela envolvida por uma carta semeada de notas. Que deve ser lido nessa ordem, pois funcionam em conjunto.
• Uma literatura nacional;
• Original.
O Prólogo
• Um livro cearense ao povo cearense;
(um livro que fala sobre o Ceará)
Com essa quebra de data, o autor dissolve o tom de conversação que expõe no inicio do livro, é nesse intervalo que se tem a revisão do texto, de meditação da primeira escrita, a revisão feita para a segunda edição.
• Exaltação da natureza (Sabiá como símbolo);
• Retorno ao passado;
• Herói nacional (índio);
• Sentimentalismo;
• Religiosidade;
• Mulher idealizada e inatingível.
ANÁLISE DOS ELEMENTOS DA OBRA
NARRADOR
É em terceira pessoa, narrador onisciente,
“ O cristão contempla o ocaso do sol. A sombra que desce dos ,montes e cobre o vale, penetra sua alma. Lembra-se do lugar onde nasceu, dos entes queridos que ali deixou.” (cap. 6 - pg. 117)
O narrador, assim como disse Machado de Assis, conta uma história que já faz parte da cultura de um povo, uma lenda, que não se inventa na escrita de um livro, mas com intimidade.
ESPAÇO
A trama se passa na exuberante natureza cearense:
“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do Sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas
de coqueiros.
Serenai verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?
Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?
Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora;
Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço
das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem.
A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
— Iracema!...” (Cap. 1 - 95)
TEMPO
Tempo é rigorosamente cronológico, como veremos em um quadro a seguir, e se passa entre os anos de 1608 e 1611. Podemos ver alguns traços de uma narrativa linear, e bem precisa, marcada por elementos da descrição da natureza:
“O alvo disco da Lua surgiu no horizonte.
A luz brilhante do Sol empalidece a virgem do céu, como o amor do guerreiro desmaia a face da esposa.
— Jaci!... Mãe nossa!... exclamaram os guerreiros tabajaras.
E brandindo os arcos lançaram ao céu com a chuva das flechas o canto da lua nova:
“Veio no céu a mãe dos guerreiros; já volta o rosto para ver seus filhos. Ela traz as águas, que enchem os rios e a polpa do caju.
“Já veio a esposa do Sol; já sorri as virgens da terra, filhas suas. A doce luz acende o amor no coração dos guerreiros e fecunda o seio da jovem mãe.
Cai a tarde.” (cap. 16 - pg. 167)
Estreitou-se com a haste da palmeira. A dor lacerou suas entranhas; porém logo o choro infantil inundou todo o seu ser de júbilo.
A jovem mãe, orgulhosa de tanta ventura, tomou o tenro filho nos braços e com ele arrojou-se às águas límpidas do rio.
Depois suspendeu-o à teta mimosa; seus olhos então o envolviam de tristeza e amor.
— Tu és Moacir, o nascido de meu sofrimento.
A ará, pousada no olho do coqueiro, repetiu Moacir; e desde então a ave amiga em seu canto unia ao nome da mãe, o nome do filho.
O inocente dormia; Iracema suspirava:
— A jati fabrica o mel no tronco cheiroso do sassafrás; toda a lua das flores voa de ramo em ramo, colhendo o suco para encher os favos; mas ela não prova sua doçura, porque a irara devora em uma noite toda a colméia. Tua mãe também, filho de minha angústia, não beberá em teus lábios o mel do sorriso.” (cap. 30 e 31 - pg. 235 à 243)
Trecho 2
O sangue da infeliz diluía-se todo nas lágrimas incessantes que não estancavam dos olhos; nenhum chegava aos seios, onde se forma o primeiro licor da vida.
Ela dissolveu a alva carimã e preparou ao fogo o mingau para nutrir o filho. Quando o sol dourou a crista dos montes, partiu pa-ra a mata, levando ao colo a criança adormecida.
Na espessura do bosque está o leito da irara ausente; os tenros cachorrinhos grunhem enrolando-se uns sobre os outros.
A formosa tabajara aproxima-se de manso. Prepara para o filho um berço da macia rama do maracujá; e senta-se perto.
Põe no regaço um por um os filhos da irara; e lhes abandona os seios mimosos, cuja teta rubra como a pitanga ungiu do mel da abelha. Os cachorrinhos famintos precipitam gulosos e sugam os peitos avaros de leite.
Iracema curte dor, como nunca sentiu; parece que lhe exaurem a vida, mas os seios vão-se intumescendo; apojaram afinal, e o leite, ainda rubro do sangue, de que se formou, esguicha.
A feliz mãe arroja de si os cachorrinhos, e cheia de júbilo mata a fome ao filho. Ele é agora duas vezes filho de sua dor, nascido dela e também nutrido.
A filha de Araquém sentiu afinal que suas veias se estancavam; e contudo o lábio amargo de tristeza recusava o alimento que devia restaurar-lhe as forças. O gemido e o suspiro tinham crestado com o sorriso o sabor em sua boca formosa.” (cap. 30 e 31 - pg. 235 à 243)
IRACEMA TERRA VIRGEM
E o tão famoso anagrama: IRACEMA/AMÉRICA
Tão bem explorado na letra de Chico Buarque:
IRACEMA VOOU
Chico Buarque/1998
Iracema voou
Ambiciona estudar
BIBLIOGRAFIA
ALENCAR, José de, 1829 – 1877. Iracema: lenda do Ceará; apresentação Paulo Franchetti; notas e comentários Leila Guenther; ilustrações Mônica Leite. – Cotia, SP: Atêlie Editorial, 2006. – (Clássicos Atêlie)
IMAGENS
01. José de Alencar, Retratado por Alberto H enschel - Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
04. Iracema. Acrílico sobre Tela de Lena Gal, 2005